Premiada no Brasil pelo IAB Design, pelo Museu da Casa Brasileira e pelo Brasil Design Award, a poltrona Caré, desenhada por Leo Ferreiro, foi destaque também no iF Design Award, uma das maiores e mais importantes premiações de design do mundo. Vencedora na categoria Móveis para Casa/ Decoração de 2023, a poltrona tem a jangada e seu sistema estrutural como inspiração, em consonância com a identidade do trabalho do designer cearense e ex-aluno da Panamericana – que busca em sua cultura, no trabalho dos artesãos locais e nas estruturas arquitetônicas da região as referências para criar um mobiliário moderno que se conecte às suas raízes nordestinas.
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Filho e sobrinho de arquitetos, Leo sempre gostou da criação e a escolha pela faculdade de arquitetura lhe pareceu o caminho natural. Em paralelo à construção de sua carreira nas áreas de arquitetura e urbanismo, o hoje designer de mobiliário autoral começou a criar seus primeiros móveis por passatempo: “Vi em uma revista uma matéria sobre móveis desenvolvidos por um escritório de arquitetura e achei super bacana. Desde criança eu sempre gostei de trabalhos manuais, aí resolvi fazer um móvel de madeira sozinho, como um desafio. Quando terminei, gostei do resultado e resolvi fazer outro. Fui evoluindo, evoluindo, até começar a vender as peças para os colegas arquitetos”.
Na época, em Fortaleza, Leo não encontrou nenhum curso de marcenaria ou design de mobiliário que atendesse sua necessidade de se desenvolver mais na área. Autodidata até então, suas criações todas eram feitas intuitivamente: “Comecei a procurar por cursos em São Paulo e me encantei pela Panamericana. Sempre fui fã de estruturas metálicas e já conhecia o projeto do prédio da escola de um livro de arquitetura. Avaliei a grade do curso, o tempo de duração e tudo se encaixava com o que eu queria. Me organizei, fiz um acordo com a empresa em que trabalhava na época, comprei a passagem e fui pra São Paulo fazer os três meses de curso de Design de Mobiliário na escola”.
Ao invés de ficar em São Paulo durante os três meses de curso, tempo para qual havia se programado, Leo terminou ficando na capital paulista por nove meses. Além do curso da Panamericana, o designer aproveitou para visitar exposições, eventos e tudo o que era relacionado à área. “Não tenho dúvidas de que a Panamericana foi a melhor escolha. Considero o Ricardo (Schirmer – professor do curso) o melhor designer que já conheci até hoje. Inclusive, tudo o que eu construí como designer, dou crédito a ele. Ele sempre me apoiou, me ajudou a direcionar o meu trabalho. Além disso, a estrutura da escola inspira criatividade. É muito bacana estudar em uma escola de artes que parece uma escola de artes. A atmosfera artística da escola fez toda diferença na minha formação”.
Leo afirma que sua metodologia e processos de trabalho são baseados até hoje em tudo o que ele aprendeu na Panamericana. “O Ricardo nos ensinou como progredir por meio de processos, tomando as decisões corretas, sem deixar passar detalhes importantes. Aprendi metodologia, e também a trabalhar o conceito e a referência simbólica. A Panamericana me ensinou que o design conta histórias e que eu precisava buscar a minha história, a minha autenticidade para poder me diferenciar. Foi por isso que escolhi voltar meu trabalho para as referências do local de onde eu vim, das minhas origens. A ideia é sempre criar algo autoral, que seja original, mas que não venha do nada, que venha das minhas experiências”.
Estudar na Panamericana foi uma ótima maneira de Leo começar a profissionalizar seu hobby: “Os cursos da escola envolve muito mais do que técnica, o foco é a criatividade. A técnica por si só não vai criar arte, o que vai criar a arte é a criatividade, a boa ideia. A semente é o conceito. A técnica é a maneira como você vai desenvolver o conceito. Você pode até começar pela técnica, mas se você não desenvolve a arte, ela não aflora. A expressão é única, a expressão é sua. A arte é o foco, o resto é o que você usa para criar a arte, são as ferramentas”, explica.
Foi a partir dessa base que adquiriu no curso de Design de Mobiliário da Panamericana que Leo desenvolveu a identidade de seu trabalho com designer autoral e criou a premiada poltrona Caré: “Comecei a desenvolver um mobiliário usando uma linguagem que saísse um pouco do que já era muito conhecido e se voltava para as histórias do Ceará, as histórias do litoral. A poltrona Caré surgiu a partir da inspiração na jangada, que é um símbolo do estado, mas não da forma da jangada em si, e sim do sistema estrutural da jangada, da tecnologia e da engenhosidade. O Ricardo acompanhou o projeto, como colega e como professor. Ele me ajudou a enxergar o design como uma busca de sentido, como uma forma de conectar a subjetividade”.
Hoje, mundialmente reconhecido por seu trabalho, Leo tem orgulho de representar o Nordeste e representar a cultura de sua região por meio de seu design: “Muita gente não conhece o Ceará e, às vezes, nem sabe como é a divisão dos estados do Nordeste. Então, pra mim, ter um projeto que representa, de uma certa maneira, o meu estado reconhecido em concursos e até internacionalmente é motivo de orgulho. Não só pelo meu trabalho em si, mas pelo que eu consegui conquistar com o meu trabalho, por poder representar a cultura e levar o meu contexto”.
Depois de receber o prêmio do IF Design Awards, no ano passado, Leo levou a cadeira Caré para Milão e expôs seu trabalho na Salone del Mobile. “Me sinto passo a passo conquistando meu espaço. Sabe aquela frase do francês Jean Cocteau ‘Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez’? Acho que eu tenho um pouco de azarão na minha trajetória. Quando eu estava em São Paulo, sentia uma dificuldade em conseguir um espaço por não ser reconhecido e por não ter familiaridade com o local ainda. Hoje, eu consigo atrair clientes fora, sou convidado para eventos que antes eu olhava e ficava ‘caramba, será que um dia eu vou chegar?’. Consigo apoios que fazem muita diferença, apoios muito bons, apoios institucionais como o do Sebrae. Isso é resultado de muita dedicação, de quando eu ainda não tinha nada e fazia todo um corre para atrair pessoas que acreditassem e me ajudassem. O que conquistei é resultado de muito trabalho”.
Trabalhar, inclusive, é o conselho que Leo Ferreiro dá aos aspirantes a designers de mobiliário que o veem como referência. “Primeiro, descubra pelo que você é apaixonado. Se você quer trabalhar com arte, saiba que a arte envolve paixão. Se apegue ao que você escolheu e transforme a paixão em trabalho. É preciso dedicação e conhecimento. Faça um curso, pesquise, se desenvolva. É preciso realmente querer aprender e estudar. Faça trabalhos que tenham propósito, que tenham relevância, que tenham substância. Ter constância também é fundamental. Quando eu ganhei o prêmio do Museu da Casa Brasileira, o Ricardo me disse: ‘Agora você precisa trabalhar esse prêmio. Não descanse, divulgue, não se acomode. O prêmio na verdade é só o combustível para seguir em frente’. Foi o que eu fiz! Não me acomodei e passei a vislumbrar um futuro maior ainda.”, finaliza ele.