Cores são capazes de mudar completamente qualquer ambiente. Elas têm papel fundamental na mensagem que será transmitida para quem vive ou trabalha em um espaço. Por isso, ao criar um projeto de Design de Interiores, é fundamental que o profissional leve em consideração não apenas a preferência de quem vai habitar determinado ambiente, mas também fatores como a psicologia das cores e o tipo de atmosfera que quer criar.
De acordo com a arquiteta e mestre em Design e Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – FAU USP, Mirelle Papaleo Koelzer, que também é professora do curso de Design de Interiores da Panamericana, as cores são elementos fundamentais em um projeto de interiores, não apenas pelo seu apelo estético, mas também porque desempenham importante papel na percepção dos espaços.
“Um mesmo ambiente pode ser percebido de maneiras totalmente diferentes de acordo com as cores utilizadas, já que a cor interfere na leitura do tamanho e forma de um espaço. Paletas claras e neutras, por exemplo, tendem a transmitir a sensação de um espaço mais amplo e arejado, enquanto paletas mais escuras podem causar a sensação de encolhimento, diminuição do ambiente. Nesse caso, não existe certo ou errado, a escolha das cores deve ser coerente com a intenção de mensagem que se quer transmitir e as sensações que se pretende gerar no espaço”, explica ela.
Existem inúmeras pesquisas sobre a psicologia das cores e as sensações que elas nos transmitem. O primeiro a fazer um estudo aprofundado sobre o tema foi o autor Johann Wolfgang Von Goethe, responsável pela “Teoria das Cores” – um tratado sobre a natureza, função e psicologia das cores. Usando como referência um estudo de Isaac Newton, o alemão abordou questões que o físico ignorou, como o impacto psicológico das cores sobre o humor e as emoções. Desde então, muitos outros estudiosos se interessaram ainda mais pelo tema da psicologia das cores.
“Um aspecto muito importante das cores no Design de Interiores é sua influência no comportamento e nas emoções dos usuários: as cores estão diretamente conectadas com sentimentos e humores. Cada cor, ao ser percebida pela retina, estimula alguma área do cérebro que envia mensagens que transmitem diferentes emoções. O azul, por exemplo, pode gerar estímulos que promovam concentração e produtividade, enquanto o amarelo está vinculado à criatividade e energia. Portanto, estudar a psicologia das cores, buscando compreender como as cores afetam as emoções e o comportamento das pessoas, é importante para que, partir desse conhecimento, o designer consiga relacionar a mensagem e sensações que quer transmitir no espaço com uma paleta de cores apropriada que crie a atmosfera desejada.”, diz Mirelle.
A professora também explica que o uso das cores atribui identidade aos espaços, se tornando uma expressão de valores, de estilo e personalidade: “Cabe ressaltar também que as cores possuem significados simbólicos e culturais, podendo ser interpretadas de diferentes maneiras de acordo com a cultura local ou mesmo de acordo com vivências passadas das pessoas. É muito comum que uma pessoa se identifique ou não com uma cor a partir de experiências prévias que criaram memórias afetivas positivas ou negativas relacionadas às cores”.
Um bom designer de interiores, portanto, precisa dominar o tema para ser capaz de transmitir a mensagem ideal ao criar um ambiente. “Primeiramente é fundamental que o designer estude a teoria das cores e domine conceitos como tom, matiz, saturação, luminosidade, para que possa aplicá-los de maneira coerente em uma composição cromática. Entender as composições primárias, secundárias e terciárias das cores bem como suas posições no círculo cromático ajuda no manejo e escolha das paletas de cor de um projeto”, afirma a professora da Panamericana.
Entender as condições de iluminação de um ambiente também é fundamental para que o designer desenvolva um bom projeto, já que a luz interfere diretamente na percepção de uma cor: “Ao escolher determinada paleta, o designer deve estudar o efeito das cores sob diferentes tipos de iluminação, natural e artificial, verificando se o resultado corresponde à sensação de cor pretendida, mesmo em diferentes situações de iluminação”, alerta Mirelle.
A escolha de cores de um projeto de Design de Interiores, portanto, pode não apenas ajudar a criar espaços visualmente atraentes e interessantes, mas também, para além do resultado estético, influenciar na funcionalidade e na percepção visual do espaço. O uso das cores possibilita a criação de vínculos de identidade e memória dos usuários com os espaços. “Por isso, para um resultado de projeto que satisfaça o cliente, é importante incorporar também suas preferências pessoais, considerando as relações emocionais ou culturais que ele possa ter com as cores escolhidas para o projeto. Compreender todos esses aspectos é fundamental para que o designer crie espaços que atendam às necessidades e desejos dos clientes”, finaliza ela.